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A importância de editais claros e objetivos como garantia da Segurança Jurídica em Licitações Públicas

Por Camila Maria Foltran Lopes

Os procedimentos licitatórios possuem um binômio protetivo: de um lado a proteção para a Administração Pública com fulcro na busca pela proposta mais vantajosa, de outro o interessado em contratar com a Administração, que deve ter garantido o direito à isonomia, o julgamento objetivo, a observância da transparência e publicidade do processo de contratação. Essas garantias estão diretamente relacionadas com a segurança jurídica. No universo das licitações públicas, a clareza e a objetividade dos editais que trazem as regras do certame são mais do que meras qualidades desejáveis — são exigências legais e fundamentos indispensáveis para a garantia da segurança jurídica dos certames. A nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133/2021) trouxe à tona, com ainda mais vigor, a necessidade de um processo transparente, eficiente e acessível a todos os interessados.

A transparência e objetividade das regras editalícias são garantias não apenas aos particulares, mas também aos agentes públicos, que agem na certeza e não na insegurança em cada prática de ato administrativo.

Entre os diversos dispositivos dessa legislação, o artigo 5º ocupa um lugar central ao consolidar os princípios que norteiam as licitações: legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade, eficiência, planejamento, transparência, segurança jurídica, interesse público e competitividade. A nova Lei contempla expressamente como diretriz, além de os velhos conhecidos, os princípios da eficiência, do planejamento, e da transparência.  Esses princípios não são apenas diretrizes teóricas, mas sim alicerces práticos que garantem que o processo licitatório alcance seus objetivos de forma justa e equilibrada.

Nesse contexto, os esclarecimentos prévios — solicitações formais feitas por licitantes antes da apresentação das propostas — desempenham papel essencial. Quando um edital contém opacidade, ambiguidades ou falhas de redação, o pedido de esclarecimento é o instrumento adequado para garantir a compreensão exata das regras do jogo. Garantir a clareza, objetividade e transparência é um dever da Administração. A ausência desses esclarecimentos, seja por omissão da administração pública, pela recusa em respondê-los, ou pela apresentação de respostas evasivas ou ineficazes, macula o certame como um todo, além de flagrantemente infringir os direitos dos interessados pelo desrespeito aos princípios mencionados, atinge do poder-dever da Administração que é a busca pela contratação mais vantajosa para administração. Se há desconhecimento ou incertezas por parte dos interessados, certamente essa incerteza se refletirá na elaboração da proposta a ser apresentada.

Assim, temos que a falta de esclarecimentos prévios viola os princípios inerentes aos processo licitatório. Quando a administração pública deixa de prestar esclarecimentos sobre aspectos relevantes do edital, está, na prática, comprometendo a igualdade de condições entre os licitantes, ferindo o princípio da transparência e, principalmente, o da segurança jurídica.

Essa falta de clareza pode gerar interpretações divergentes, impactando diretamente a formulação das propostas Havendo contratação, tais incertezas podem gerar contradições na execução do contrato, superveniência de obrigações ou até mesmo distorções quanto ao objeto efetivamente entregue. O resultado é um processo viciado, inseguro, tanto pela Administração quanto para os interessados.

Esclarecimentos não fornecidos podem anular o edital?

Sim, a negativa de esclarecimentos ou a omissão administrativa frente às dúvidas pertinentes dos licitantes pode levar à nulidade do edital. Isso ocorre porque se configura violação aos princípios basilares da licitação, como a publicidade, o contraditório e a ampla defesa, além da segurança jurídica e da isonomia.

Não é raro que tribunais de contas e o próprio judiciário reconheçam a nulidade de editais que mantiveram exigências obscuras, contraditórias ou omissas, especialmente quando as solicitações de esclarecimento foram desconsideradas ou não respondidas com a devida atenção.

O que se espera da Administração Pública?

Mais do que responder a dúvidas, espera-se que a administração atue preventivamente, redigindo editais claros, objetivos e detalhados, reduzindo ao mínimo a necessidade de esclarecimentos. Quando estes forem inevitáveis — como frequentemente ocorre em processos complexos —, a resposta deve ser rápida, transparente e amplamente divulgada, permitindo que todos os interessados tenham acesso às mesmas informações.

Essa postura ativa contribui para um ambiente licitatório mais justo e confiável, fortalecendo a credibilidade dos processos públicos e promovendo uma concorrência leal, em que vence aquele que melhor atender as regras previamente estabelecidas, aquele que objetivamente apresenta a proposta mais vantajosa para a Administração, sem surpresas ou adivinhações.

Conclusão

Garantir esclarecimentos prévios adequados e tempestivos não é um favor — é uma obrigação legal e ética. A clareza e a objetividade do edital são pressupostos inegociáveis para a manutenção da segurança jurídica e da integridade do processo licitatório.

O Movimento Advocacia Independente (MAI) reforça o compromisso com uma advocacia que atue não apenas como fiscal das normas, mas também como agente de transformação, defendendo a transparência, a legalidade e o fortalecimento das instituições públicas.


Dra. Camila Maria Foltran Lopes

Graduanda em Tecnologia em Gestão de Tecnologia da Informação, pela Faculdade de Tecnologia de Tatuí; Mestre em Direito, Justiça e Desenvolvimento, pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) (2021); Pós-graduada em Direito da Seguridade Social pela Faculdade Legale (2013). Pós-graduada em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Faculdade Toledo de Ensino (2011). Pós-graduada em Direito Público pela Escola Paulista de Direito – EPD (2007). Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de Itu (2003). Advogada com experiência em Direito Público, com ênfase em Licitações e Contratos Públicos; em Direito do Trabalho, especialmente consultivo, preventivo e contencioso; Advogada do escritório Rocha Calderon e Advogados Associados.

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**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação.

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O Movimento Advocacia Independente (MAI) é uma associação privada sediada em São Paulo, Brasil. Seu foco principal é a defesa de direitos sociais, atuando como uma organização voltada para a advocacia e questões jurídicas.
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